Após 31
dias na estrada para percorrer os 4.765 quilômetros da Rodovia
BR-101, somando mais de 500 horas em cima da bike, o casal Rosi de Melo e Roberto Carvalho realizou um sonho: cruzar o país de Norte ao Sul e ainda ajudar
1.150 crianças carentes de três instituições em Campo Grande (MS),
cidade natal dos ciclistas e em Guiné Bissau, na África.
"Não foi fácil, bem difícil mesmo; pois o desafio não era só acordar
todos os dias e pedalar, o desafio também foi no relacionamento, nas
diferenças; desafio em negociar com seu corpo; desafio de focar no
objetivo e não desviar dele, dizer não para as possibilidades de
conhecer melhor os lugares incríveis que passamos... Mas foi
gratificante ver o quanto podemos fazer quando nos colocamos nas mãos de
Deus," comenta Rosi, idealizadora do projeto.
"O sentimento de completar a maior aventura de minha vida é uma mistura
de emoções e de pensamentos: um misto de gratidão e alegria. Lembrei das
palavras da dona Lila no início da viagem: "vocês estão realizando o
sonho de muitos que moram no extremo da BR 101, cruzar de ponta a
ponta"! comenta Rosi, que sempre teve a bicicleta em sua vida, inspirada
pelo avô.
A experiência será lembrada pelo resto da vida: "Completar o Desafio
BR-101 é um sentimento de superação pessoal e alívio de missão
cumprida. A lição que aprendi é ajudar o próximo independentemente das
causas ou motivos, sem julgar," pondera Roberto sobre a solidariedade,
carisma e o apoio das pessoas que cruzaram pelo caminho.
Já em Campo Grande (MS), a bibliotecária Rosilene ainda reflete: "a
lição que fica é que nada é impossível ao que crê, tudo é possível
quando sonhamos juntos com outros," diz.
O início no Nordeste
'Um sol para cada um' é uma expressão corriqueira para quem vive no
Nordeste do país onde as temperaturas altas e os ventos fortes abafados
desafiam qualquer um. Principalmente para os ciclistas que não estão
acostumados com a região, como foi o caso da Rosi e Roberto que logo no
início precisaram recalcular os trajetos planejados por várias vezes
para conseguirem-se manter dentro do cronograma de viagem.
"Toda a passagem pelo Nordeste foi especialmente surpreendente. O povo é
muito carismático e hospitaleiro. E nem imaginávamos quanta serra havia
por lá, além do forte calor que nos desafiou a cada dia", relembra
Rosi.
"A dificuldade do percurso diário, calor intenso e umidade do ar foram
grandes adversários no dia a dia do pedal, desgastando muito nos 100 a
150km que pedalamos em média, equivalendo a 200 a 300km rodados em nossa
terra (Campo Grande/MS)" comentou Roberto.
Colocados à prova!
Outro momento decisivo do Desafio BR-101 aconteceu já na região Sudeste
após mais de 15 dias de pedal, quando a pedalada recebeu a participação
das novas integrantes, Thaís Gisele Torres Catalani e Adriane Dias Barbosa que juntaram-se ao casal nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente.
"Tive um estresse muscular por causa do esforço acumulado, lesão nos
punhos decorrente ao síndrome do túnel do carpo e corpo todo inchou,
precisei ficar uns três dias em repouso pra retornar," conta Rosi que já
tinha sofrido um tombo na região das serras próximas a Praia de
Maresias, no litoral paulista, além da superação do medo de altura por
passar em ciclovias cariocas suspensas sobre o mar, túneis barulhentos e
escuros, devido a labirintite... ainda sim, seguindo pedalando até
Santos com muita dor.
"Em todos esses momentos vi o quão importante é ter uma pessoa que é
parceira, te apoia, companheira que mesmo podendo ir, prefere esperar e
te ajudar pra chegar junto, penso que este é o verdadeiro espírito
esportivo", diz Rosi.
De Santos (SP) a Curitiba (PR), Rosi e Roberto seguiram de ônibus,
enquanto as novas integrantes seguiram pedalando o trajeto rumo ao sul
do país. "Passei o dia 24 de dezembro na UPA (Unidade de Pronto
Atendimento) em Curitiba, onde fiz um tratamento para recuperar e
conseguir continuar pedalando," explica Rosi.
'Reta final'
O reencontro do 'quarteto fantástico' aconteceu em Balneário Camboriú
(SC), em que pedalaram juntos nos dois últimos Estados do Sul do País,
no entanto, as dificuldades não pararam, muita chuva, trânsito tenso,
outra queda da Rosi. No penúltimo dia, o Roberto pedalou com dores de
cabeça intensa e pra finalizar o último dia do Desafio, Rosi sofreu uma
intoxicação alimentar, com vômitos e diarréias durante todo o dia e
faltando 90 km pra encerrar ela ainda foi mordida por um cachorro!
"Minha reflexão é quão importante se libertar dessas amarras sociais,
sair da zona de conforto e se aventurar, conhecer a diversidade de
pessoas, viver o seu dia a dia, conhecer um pouco do meu país, um dia,
trinta dias, um ano, não importa, aventure-se!" diz Roberto.
"Pedalando
por este Brasil, conheci e vi quantas pessoas boas existem por aí, que
fazem o bem sem nada em troca. No ciclismo fazemos uma conexão com um
estranho, que se torna amigo de longa data. Deus moveu pessoas pra nós
ajudar e apoiar em situações que não esperávamos nada de ninguém. O
Desafio da BR 101 pra mim, foi uma conexão intensa com o amor ao
próximo," completa Rosi.
Dados finais:
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário