Rede social Strava, que estimula a competição entre ciclistas ao
permitir a criação de rankings com os melhores tempos para cada rua; na
imagem, os "segments" da região dos Jardins e da Bela Vista, em São
Paulo.
Tido como referência da "mais saudável rede de usuários entre qualquer rede social", o aplicativo para ciclistas Strava vem se popularizando no Brasil. Seu principal atrativo é a competição que proporciona com rankings virtuais --e que está ligada a dois acidentes fatais nos EUA.
Funciona assim: ao término de uma pedalada, o usuário "sobe" para o site o trajeto que acabou de percorrer, gravado com o smartphone ou um aparelho de GPS. O Strava, então, compara o tempo recém-enviado ao de outros ciclistas que já haviam passado pelas mesmas ruas.
O usuário ganha um prêmio virtual para cada um dos trechos em que foi mais veloz que outros ciclistas.
"Nem penso em sair de casa sem 'ligar' o Strava", diz o assistente de palco José Armando Peixoto, 41, que usa o aplicativo desde 2011, ano em que voltou a "pegar pesado na bike", segundo ele.
Desde então, Peixoto --que agora participa de provas amadoras de ciclismo-- perdeu 11 kg e parou de fumar.
"Gosto mesmo é do lado social do Strava. Muitos dos amigos com quem pedalo hoje eu conheci usando o aplicativo", diz.
Em um desafio de quilometragem proposto pela rede social em janeiro, ele foi o oitavo brasileiro mais dedicado, com 2.160 km percorridos durante o mês. No total, ele acumula 26,2 mil km registrados no aplicativo. "Antes, eu ganhava todos esses desafios, mas agora está muito popular e concorrido."
CRESCIMENTO
"Em 2012, o número de usuários brasileiros foi multiplicado por dez. Em nosso último desafio, o primeiro e o segundo lugares foram ocupados por ciclistas do Brasil", disse à Folha o presidente-executivo e cofundador do Strava, Michael Horvath, em entrevista por e-mail.
Horvath diz que o público brasileiro é composto principalmente composto por paulistanos. Logo em seguida vêm os cariocas.
No ano passado, o número global de usuários do app também decuplicou, sendo 60% desses novos adeptos de fora dos EUA.
"Aqui no Japão, fazem de tudo para conseguir os melhores tempos no Strava", diz o brasileiro Mauro Naoki Morishita, 34, que é ciclista amador e atualmente vive próximo a Tóquio.
"Especialmente se [o trecho] for de categoria HC, 1 ou 2", diz Morishita, referindo-se à escala que o programa dá a subidas, conforme seu comprimento e ingremidade.
Sobre os primórdios do aplicativo, Hovarth diz que a ideia era criar um "vestiário virtual" para mimetizar os "motivadores" momentos que passava com seus colegas de equipe de remo (o app permite envio de diferentes tipos de esporte, como corrida, remo e natação).
BRINCADEIRA?
Também em 2012, o Strava foi processado pela família de Kim Flint, que morreu ao tentar descer mais rápido um morro de Berkeley, na Califórnia. O trecho, hoje marcado por usuários com a ferramenta para sinalizar perigo, não permite mais competição.
Posteriormente, a empresa processou a família do ciclista de volta, alegando que, na hora do cadastro, ele havia concordado com os termos de uso, que isentam o Strava da responsabilidade do que fazem seus usuários.
"Gosto de usar para brincar com meus amigos, mas acho uma babaquice o cara sair de casa só para fazer determinado trecho mais rápido", diz a ciclista profissional Gisele Gasparotto, 33.
"Já vi gente colocando o GPS no bolso e fazendo um trecho de moto só para roubar KOM [King of the Mountain, título de melhor tempo]", diz.
"Nossos usuários são os responsáveis por sua própria segurança e devem agir conforme a lei e o bom senso", diz Hovarth.
Usuário contumaz, Peixoto concorda e diz que o app "é motivador, mas a coisa tem limite."
Em outro acidente fatal, um usuário do Strava ignorou um semáforo fechado (segundo evidências) e atropelou um idoso de 71 anos, que morreu por conta dos danos cerebrais causados pelo atropelamento.
O ciclista, Chris Bucchere, está respondendo por homicídio. No mesmo dia do atropelamento, escreveu que, na verdade, a luz do semáforo era a amarela, e que não teria sido possível brecar, mesmo que tivesse tentado.
Ele não mencionou estar usando o aplicativo, mas o registro de sua pedalada (visto por outros usuários) mostrava que ele descia a rua em questão a 56 km/h.
COMPETIÇÃO
Um dos trechos mais cobiçados em São Paulo é a subida do Pico do Jaraguá, na zona oeste, percorrida mais de 1.500 vezes por 286 usuários. O título de KOM é atualmente ostentado por Otavio Bulgarelli, ciclista profissional.
Há uma lista de profissionais que são usuários do Strava, lembra o executivo Hovarth. "Mas nós nunca oferecemos um balde de dinheiro para um ciclista para que ele usasse o programa. Eles usam por ser divertido e por dar um canal direto para que conversem com seus fãs", diz.
O "rei" da descida da avenida Rebouças registrou velocidade média de 64 km/h, acima da máxima permitida, que é de 60 km/h.
Matéria: Folha de S. Paulo
Tido como referência da "mais saudável rede de usuários entre qualquer rede social", o aplicativo para ciclistas Strava vem se popularizando no Brasil. Seu principal atrativo é a competição que proporciona com rankings virtuais --e que está ligada a dois acidentes fatais nos EUA.
Funciona assim: ao término de uma pedalada, o usuário "sobe" para o site o trajeto que acabou de percorrer, gravado com o smartphone ou um aparelho de GPS. O Strava, então, compara o tempo recém-enviado ao de outros ciclistas que já haviam passado pelas mesmas ruas.
O usuário ganha um prêmio virtual para cada um dos trechos em que foi mais veloz que outros ciclistas.
"Nem penso em sair de casa sem 'ligar' o Strava", diz o assistente de palco José Armando Peixoto, 41, que usa o aplicativo desde 2011, ano em que voltou a "pegar pesado na bike", segundo ele.
Desde então, Peixoto --que agora participa de provas amadoras de ciclismo-- perdeu 11 kg e parou de fumar.
"Gosto mesmo é do lado social do Strava. Muitos dos amigos com quem pedalo hoje eu conheci usando o aplicativo", diz.
Em um desafio de quilometragem proposto pela rede social em janeiro, ele foi o oitavo brasileiro mais dedicado, com 2.160 km percorridos durante o mês. No total, ele acumula 26,2 mil km registrados no aplicativo. "Antes, eu ganhava todos esses desafios, mas agora está muito popular e concorrido."
CRESCIMENTO
"Em 2012, o número de usuários brasileiros foi multiplicado por dez. Em nosso último desafio, o primeiro e o segundo lugares foram ocupados por ciclistas do Brasil", disse à Folha o presidente-executivo e cofundador do Strava, Michael Horvath, em entrevista por e-mail.
Horvath diz que o público brasileiro é composto principalmente composto por paulistanos. Logo em seguida vêm os cariocas.
No ano passado, o número global de usuários do app também decuplicou, sendo 60% desses novos adeptos de fora dos EUA.
"Aqui no Japão, fazem de tudo para conseguir os melhores tempos no Strava", diz o brasileiro Mauro Naoki Morishita, 34, que é ciclista amador e atualmente vive próximo a Tóquio.
"Especialmente se [o trecho] for de categoria HC, 1 ou 2", diz Morishita, referindo-se à escala que o programa dá a subidas, conforme seu comprimento e ingremidade.
Sobre os primórdios do aplicativo, Hovarth diz que a ideia era criar um "vestiário virtual" para mimetizar os "motivadores" momentos que passava com seus colegas de equipe de remo (o app permite envio de diferentes tipos de esporte, como corrida, remo e natação).
BRINCADEIRA?
Também em 2012, o Strava foi processado pela família de Kim Flint, que morreu ao tentar descer mais rápido um morro de Berkeley, na Califórnia. O trecho, hoje marcado por usuários com a ferramenta para sinalizar perigo, não permite mais competição.
Posteriormente, a empresa processou a família do ciclista de volta, alegando que, na hora do cadastro, ele havia concordado com os termos de uso, que isentam o Strava da responsabilidade do que fazem seus usuários.
"Gosto de usar para brincar com meus amigos, mas acho uma babaquice o cara sair de casa só para fazer determinado trecho mais rápido", diz a ciclista profissional Gisele Gasparotto, 33.
"Já vi gente colocando o GPS no bolso e fazendo um trecho de moto só para roubar KOM [King of the Mountain, título de melhor tempo]", diz.
"Nossos usuários são os responsáveis por sua própria segurança e devem agir conforme a lei e o bom senso", diz Hovarth.
Usuário contumaz, Peixoto concorda e diz que o app "é motivador, mas a coisa tem limite."
Em outro acidente fatal, um usuário do Strava ignorou um semáforo fechado (segundo evidências) e atropelou um idoso de 71 anos, que morreu por conta dos danos cerebrais causados pelo atropelamento.
O ciclista, Chris Bucchere, está respondendo por homicídio. No mesmo dia do atropelamento, escreveu que, na verdade, a luz do semáforo era a amarela, e que não teria sido possível brecar, mesmo que tivesse tentado.
Ele não mencionou estar usando o aplicativo, mas o registro de sua pedalada (visto por outros usuários) mostrava que ele descia a rua em questão a 56 km/h.
COMPETIÇÃO
Um dos trechos mais cobiçados em São Paulo é a subida do Pico do Jaraguá, na zona oeste, percorrida mais de 1.500 vezes por 286 usuários. O título de KOM é atualmente ostentado por Otavio Bulgarelli, ciclista profissional.
Há uma lista de profissionais que são usuários do Strava, lembra o executivo Hovarth. "Mas nós nunca oferecemos um balde de dinheiro para um ciclista para que ele usasse o programa. Eles usam por ser divertido e por dar um canal direto para que conversem com seus fãs", diz.
O "rei" da descida da avenida Rebouças registrou velocidade média de 64 km/h, acima da máxima permitida, que é de 60 km/h.
Matéria: Folha de S. Paulo