As fortes pressões de políticos, dirigentes desportivos e até juízes, sobre a Real Federação Espanhola de Ciclismo (RFEC), defendendo a absolvição de Alberto Contador, levou a União Ciclista Internacional (UCI) a recorrer para o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS). O objectivo é obter uma decisão credível e "independente" sobre o processo de doping envolvendo o vencedor da Volta à França do ano passado.
"O objectivo principal da UCI não é entrar numa batalha contra Contador. É ter a segurança de que a decisão final no que respeita a Contador é tomada por uma instância completamente independente, cuja credibilidade jamais foi posta em causa. A UCI quer que o julgamento definitivo seja exprimido por uma instância reconhecida por todos", afirmou o porta-voz da UCI à AFP, à margem dos Mundiais de ciclista de pista.
"Eles [RFEC] sofreram muitas pressões políticas, entre as quais do primeiro-ministro [José Luis Rodríguez Zapatero], dizendo que Contador não deveria ser sancionado", acrescentou à mesma agência o presidente da UCI, Pat McQuaid. O apoio de Zapatero a Contador, escrevendo no Twitter que não havia razão jurídica para punir o ciclista, foi o que deu mais nas vistas, mas a campanha a favor do corredor envolveu políticos do partido do governo, o PSOE, e do principal grupo de oposição, o PP, vários dirigentes desportivos, como o presidente do Comité Olímpico Espanhol, Alejandro Blanco, e até do presidente da Audiência Nacional, o juiz Angel Juanes. Fundamental acabou por ser o El Mundo, o jornal que fez uma entrevista a Contador, também transmitida na televisão, e que insistiu em obter a reacção de responsáveis de várias áreas da sociedade espanhola.
O comité de competição da RFEC acabou por recuar na proposta de sanção inicial (um ano de suspensão), proposta pela instrutora do processo, alegadamente devido às novas provas apresentadas pela defesa de Contador. Mas a UCI não está convencida. "Apesar de a federação espanhola nos ter dito que as pressões não tiveram efeito sobre a sua decisão, nós não sabemos verdadeiramente. Nem o público, nem os apaixonados do ciclismo, nem as pessoas do ciclismo sabem verdadeiramente", afirmou McQuaid, para quem "a única forma de obter com certezas um resultado credível e justo era recorrer à mais alta autoridade, que é o TAS": "É uma instância que tem a credibilidade e a autoridade para tratar deste caso. Isso quer dizer que, qualquer que seja a decisão, iremos compreendê-la e aceitá-la."
A UCI espera que a Agência Mundial Antidopagem (AMA) se venha a juntar ao recurso, pois a AMA deu apoio à federação internacional na avaliação desde caso desde início. Aliás, os dois organismos elaboraram uma série de exames extraordinários antes de o processo ter sido entregue à RFEC, na sequência do controlo positivo de Contador no Tour do ano passado, por detecção de clembuterol.
Os valores ínfimos detectados (50 picogramas por mililitro de urina) estiveram na origem dos exames complementares e foram justificados pela defesa do ciclista como tendo origem em contaminação alimentar, por ingestão de carne de um animal engordado ilegalmente com clembuterol. Contador disse ter comido bife de vaca que um amigo lhe levara do País Basco durante o Tour e apresentou pareceres alegadamente sustentando a teoria da contaminação alimentar. Apesar disto, vários cientistas antidoping disseram que valores ínfimos de clembuterol podem na mesma indiciar dopagem, com micro-doses do dopante.
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