A previsão do tempo para São Paulo era e ainda é de muita chuva, mas lá no miolinho do imenso estado há um lugar chamado Itupeva, que possui um clima desértico, muito calor durante o dia e muito frio à noite. Enquanto os alagamentos tomam conta dos noticiários lá o céu se mostra azul com um imenso sol amarelo. Exatamente nesse belo cenário centenas de atletas se reuniram para disputar a última e sofrida prova de Mountain Bike do ano, o 12 horas.
Einstein provou física e matematicamente que tudo depende do observador e do referencial, ficar sobre uma bicicleta por 12 horas pode ser uma eternidade para quem assiste a competição, mas para quem pedala pode durar menos do que se imagina. Um segundo é menos que um piscar de olhos, mas um piscar de olhos é uma vida na eternidade. Ficar horas em uma fila é uma tortura, mas o que são algumas horas de frente para o mar. Que diferença faz irmos perambulando vagarosamente ou a galope se estamos sendo carregados por espaços e regiões para onde a terra está sendo levada.
Os atletas dispostos a pedalar por 12 horas sozinhos não mediram nem esforços nem tempo, fizeram uma largada digna dos 100 metros rasos... Tiago Eduardo Faria (Proparts Specialized) e Humberto Cardoso dos Santos (??? Sem Patrocínio ???) disputaram volta a volta a liderança da prova, a cada momento um atacava enquanto o outro se poupava, Tiago contava com toda sua estrutura de equipe, monitores que se comunicavam via rádio , enquanto Humberto tinha o apoio de sua inseparável companheira (Maria Cristina) e uma caixinha de isopor.
De outro lado a mesma cena parecia se repetir, porém multiplicada por quatro, a equipe Merida Cateye contava com os atletas profissionais Rubens Donizete, Ulisses Trasiatti, Orlando Alves e Roberto Nogueira, suportados por uma imensa estrutura com massagistas, confortáveis cadeiras, TV de LCD, bateram de frente com a equipe Belo Horizontina formada pelos atletas Thiago Drews, Francisco Hildebrando, Geraldo Rodrigues e o incansável Edicarlos Oliveira, o “rosinha”, que além de se revezarem nas voltas da competição se revezavam na única cadeira que havia para eles descansarem.
As disputas foram alucinantes, dentro e fora da pista, os gritos de motivação, as vibrações por estar na frente os olhares de dor e superação consumiam o tempo e o sol trocou de lugar com a lua sem que ninguém percebesse. Na equipe Mineira tudo era imprevisível e improvisado, na equipe da Merida a estratégia “entra Rubinho, descansa Rubinho...entra Rubinho, Descansa Rubinho” deu certo e eles venceram por 10 minutos de diferença. (Acompanhe as disputas no gráfico anexo).
Nas duplas Daniel Carneiro e Luiz Carlos (Merida Cateye) pareciam competir juntos e contra si próprios, lideraram de ponta a ponta, Luiz Carlos no final da prova desejou profundamente que a premiação fosse uma dose de soro, tamanha desidratação e desgaste físico que o atleta sofreu.
Mas competir 12 horas e sozinho são para poucos corajosos, Luana Machado de Lagoa Vermelha (Rio Grande do Sul) com sua pedalada constante e elegante soube aproveitar a sorte, que sempre aparece para uma mente bem preparada e venceu a carioca favorita ao título Manuela Vilaseca.
Já às 09 horas da noite e de prova Humberto e Tiago ainda estavam roda a roda... (Acompanhe as disputas no gráfico anexo) com um forte ritmo deram uma volta no favorito ao título Joseilton Gomes da Silva. O sofrimento era visível nos rostos dos atletas, o circuito digno de um verdadeiro “cross country” com trilhas técnicas, subidas curtas e fortes e vários trechos de mata fechada os desgastava aos poucos. Faltando 3 voltas para o final Humberto teve problemas em seu farol e foi obrigado a parar, Tiago após 11 horas e 53 minutos pedalando sagrou-se campeão.
Humberto, vice campeão, nunca havia participado de uma corrida tão longa: “O máximo que competi foram 05 horas!”, terminou a prova após 11 horas e 49 minutos de pedal completamente desidratado e sem forças até para se manter de pé, perdeu nada menos que 4 kg durante a competição, mas o prestigio dos troféus desenhados por Oscar Niemeyer valeram os esforços.
Após a corrida tudo voltou a ser como antes, as cidades insistem em ser alagadas, os noticiários sem pedir licença invadem as salas com seus estandartes e fazem o show divulgando o imenso número de mortos e desabrigados e depois, para acalmar, distrai toda a gente com sua novela... e as 12 horas que para uns nem existiram, para outros soarão por toda eternidade.
FONTE; POR EMAIL “Timão e Pumba”
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